quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Você tem medo de se apaixonar


Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de altar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo. Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouco perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus aguenta uma reza por mais de duas horas.


Medo de ser engolida como se fosse liquido, de ser beijada como se fosse líquem, de ser tragada como se fosse leve. Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que eu tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infancia, o seio que criou para esquecer as mãos quando criança, medo de ser a ultima a vir para mesa, a ultima a voltar da rua, a ultima a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza.

Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso podem se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar a sua voz. Medo de ser sugada como se fosse polén, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz.

Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção. Medo da independência dele , de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando você faz brincadeira. Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem ecoar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegra seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele.

Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da ansiedade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merece-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem conhece-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de falar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Você tem medo de já esta apaixonada.
Carpinejar

(Eu tenho medo de já estar apaixonada.)

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