sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Despedida


Durante a minha infância toda ele foi um amigo e tanto. Foi minha companhia por muitas manhãs e tardes, e ele estava sempre lá pra sorrir comigo, e me ajudar com brincadeiras. Lembro que ao lado dele tudo era felicidade e lírios. Brancos como a sua pele, e de uma formosura que nem se comparava a sua.

Crescendo percebi que aquelas tardes de brincadeiras passaram a ficar apenas nas lembranças e em álbuns velhos de fotografias. Lembro-me do seu sorriso ao me acordar. Do jeito que ele me olhava assistir desenhos 8horas da manhã de uma forma tão linda. Lembro-me das tardes que ele contava sobre sua infância, sobre as brincadeiras que ele brincava, e que me ensinou a brincar. Lembro de quando ele dizia o quanto que ficou feliz quando soube que ganharia mais uma neta (eu), e ela te ajudaria a lutar. Lembro-me como ele sorria quando eu ia gritando te chamar: "Vô, vai começar chaves, vem assistir comigo!" e ele logo dizia: "Estou indo kéki."
E isso até me fazia acreditar que o amor pudesse superar a morte e talvez pudesse superar tudo. Mesmo crescida as vezes eu me sentava naquela sua poltrona ou na sua cadeira de balançar e ficava ali só lembrando das tardes felizes que eu passei com a companhia dele.

A ultima vez que o vi, ele já não estava mais radiante como os lírios... Havia apenas os olhos fechados e um aperto de mão, e eu o beijei e disse "Eu te amo vô", e recebi um fraco aperto de mão. Eu até tentei abraça-lo pra ver se a dor amenizava, mas foi uma tentativa em vão. Tudo que eu não queria era chorar, pra não deixá-lo triste, mas foi inevitável. Vê-lo naquela cama de hospital fez meu coração partir já sabendo que ele não aguentaria.
E depois faltava algo. E era você. No dia seguinte de manhã chegou a notícia, e eu teria que ir me despedir. Não sei se fiz certo em ir, vê-lo daquele jeito no dia seguinte me faz tão mal. Eu não queria, queria apenas me lembrar do lindo sorriso que ele tinha. Fique lá parada, apenas olhando e calada.
Os episódios de Chaves não foram mais os mesmos sem o seu sorriso. Acordar 8 horas da manhã ou meio dia não faz mais diferença, pois você não está aqui para me acordar. Ir na casa da vó não me faz bem, pois eu sei que não vou vê-lo todas as noites de domingo se arrumando e dizendo "Fica com Deus kéki", e sei que nunca mais receberei aquele simples, apertado e magro abraço de despedida.
Hoje eu estou aqui apenas escrevendo isso para que onde estiver saiba: "Sua menininha cresceu, te ama muito e sente muitas saudades". E fazer um unico pedido: "Deixa eu sonhar com seu abraço mais uma vez?"

"Entre a minha casa e a tua. Há uma ponte de Estrelas.
Uma ponte de Silêncios."
Mario Quintana

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